29/11/2011 | N° 2991
ZOOM | FRANCISCO DALCOL
pela cerveja
Sabe quando algo é feito sem pretensão e acaba virando coisa séria? É mais ou menos isso o que dá para dizer de A Culpa é do Padre 2, livro que dá sequência à estreia de Ronaldo Lippold. Ele continua sua saga com a chamada Em Busca da Cerveja Perfeita. Ronaldo reúne uma série de crônicas (51 textos) inspiradas em histórias da noite, de conhecidos, de viagens e por aí vai. Agora, ele ainda sofistica alguns textos com ficções.*
O giro de lançamento do livro começa hoje, às 19h, no Ponto de Cinema. Depois, Lippold passará pelo Zeppelin (dia 8) e Boteco do Rosário (dia 14). O livro custa R$ 20. A Culpa é do Padre 2 – Em Busca da Cerveja Perfeita tem algumas explicações. Primeiro, o gosto pessoal e histórico de Lippold por cerveja e boemia. E segundo, o fato de ele e sua companheira, Neneca, estarem produzindo cerveja em casa. É a Old Lipp, encontrada em locais como Boteco do Rosário, La Vitrine e Empório Benegusto.
– É uma produção caseira. Por isso, não sobra muito para colocar à venda – brinca Ronaldo.
Ricardo Ritzel
A RAZÃO - 29/11/11
Ronaldo Lippold (ou Ronaldinho como é conhecido) é um representante comercial, de 51 anos, com vasto círculo de amizade, leitor voraz dos clássicos da literatura, amante das melhores cervejas e, também, desde alguns anos, escritor.
E mais, ele é fabricante da Fritz Premium Ale: uma cerveja complexa, robusta, com bastante lúpulo e malte, aroma e gosto marcantes, de cor âmbar, e, o mais importante, com espuma branquíssima e densa. E quem faz uma cerveja Ale com espuma branquíssima não se apega a frivolidades, modismos temporais e mudanças inesperadas. Quem produz uma cerveja Ale com colarinho contendo tais características é um clássico por natureza. As mudanças são lentas, graduais e seguras, assim como deve ser as conversas entre velhos amigos ou a preparação de lautos e saborosos jantares.
Mas Ronaldinho mudou. Sim, ele mudou e muito. Não esperem encontrar em seu novo livro somente as aventuras juvenis que o consagram com os mais de 1.000 exemplares vendidos de “A Culpa é do Padre I”, publicado em 2009, com histórias divertidas sobre fatos insólitos de uma geração que viveu sua juventude entre os anos 70 e 80, em Santa Maria.
É claro que elas estão nesta segunda publicação e continuam hilariantes e surpreendentes, como o Xereco e o Terneiro em um show da Crisálida, o Lamartine e o Mano Velho na Garopaba dos anos 70, o Caeté e os filhos do advogado da Brigada, a hora de abrir no Bar do Garça, o Borboleta e o furto da sineta do Maria Rocha e, entre outras, bonitas homenagens para o Marquinhos Barreto, o Nenê e o Bulcão, três amigos que deixaram esta festa da vida mais cedo que deviam.
Em “A Culpa é o Padre II – Em Busca da Cerveja Perfeita”, o autor amadureceu. Demonstra nitidamente o passar do tempo e as perdas que isso implica. E, aos poucos, vai trocando as alegres histórias inusitadas que aconteceram por estes lados do mundo pelo inusitado da vida e da condição humana por este Rio Grande a fora. A novidade desta nova fase do escritor é densa, às vezes sombria, porém sempre instigante. Magnética. Assim como a cerveja Ale de colarinho branquíssimo: para ser apreciada com tempo e profundidade.
A começar pela crônica “O Lançamento do Padre”, um texto inspirado nitidamente em Gabriel Garcia Marquez, onde o autor conta que, ao lançar seu primeiro livro no Bar Zeppelin, percebe que seus amigos mortos estão, como sempre, aprontando em uma mesa e provocando as maiores confusões no local.
Passa pelo instigante “Grand Finale”, quando passeia por uma Santa Maria no ano de 2022, junto com George Orwell e Jack Kerouac, em uma crítica cruel da normatização cada vez maior de nossa sociedade. Chega ao assustador e sensacional “Folhas do Tempo”, inspirado em Oscar Wilde, quando um fantasma de um escritor do século XVIII vaga eternamente por bibliotecas atrás de um único leitor para poder, então, descansar eternamente.
Destaque para o lírico e cinematográfico “O Triste Fim do Grande Circo Bucarest” (seria Jorge Luís Borges a inspiração?) e “A Vingança de Maria”, ambientada na fronteira uruguaia da década de 40 e trazendo pinceladas nítidas de Edgar Alan Poe, outro autor predileto do escritor santa-mariense.
E assim, com inspiração dos clássicos e suas inquietações, o autor vai construindo uma visão singular da vida moderna, mostrando o absurdo que se esconde no cotidiano das vidas humanas em 50 crônicas simplesmente arrebatadoras, para serem sorvidas como a cerveja Ale: com tempo, prazer e, de preferência, bem acompanhado.
Depois deste novo livro do Ronaldinho, fica apenas uma dúvida, uma curiosidade, além da certeza dele ser um ótimo cronista. A dúvida é se todas as histórias relatadas por Lippold em “A Culpa é do Padre II são verdadeiras. No meu modesto testemunho, presenciei algumas e, noutras, ouvi pessoalmente o relato de seus personagens. Em outras, me surpreendi, mas, por via das dúvidas, não andarei mais na Estrada de Ibarama à noite e, muito menos, me hospedarei no Hotel Sono Eterno. Estes vendedores conhecem tudo por estas bandas.
Quanto a curiosidade, hoje, às 19h, durante o lançamento do novo livro do Ronaldinho lá no Ponto de Cinema, estarei atento aos menores gestos do autor e louco para saber em qual mesa a Lourdinha e o Miguel vão colocar o Mano Véio, a Beth, o Mappo, o Vaca, o Marquinhos, o doutor Bulcão e o Nenê. Será imperdível. Boa Leitura.
Um comentário:
Eita, eu adoro uma boa cerveja!!!!!
Baaaaahhhhhhhhh!
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