GRAPHIC NOVEL
XIRÚ LAUTÉRIO
um personagem que luta contra a morte
Por Cloveci Muruci de Porto Alegre/RS
O Xirú Lautério é um personagem de HQ,
criado por Jorge Ubiratan - Byrata, na década de 70, e publicada em 1975, nos
jornais: O Semanário (Tupancireta) e o Diário Serrano (Cruz Alta).
Em 1978 o autor reúne essas tiras numa
revista e nos anos 80 a tira reaparece na revista Quadrins, e em 1986 retorna
como tira publicada no jornal A Razão de Santa Maria.
Em 2007 Byrata inicia a saga do “Xirú
Lautério: Brigando Contra a Morte”, “Xirú Lautério Tigre N' Água”, e “Xirú
Lautério e os Dinossauros”, lançado em 2013 no Tutti Jiorn - Bar dos
Cartunista, Cidade Baixa em Porto Alegre.
Ao reencontrar, após longo tempo, Xirú
Lauterio, personagem de HQ criado por Byrata, e desta vez com material
suficiente a um olhar mais detalhado, percebi que Xirú é a primeira vista o
gaúcho folgado, alegre e valente, envolvido nas lidas do campo; tudo isso ao
traço preciso do seu criador. Narrativa linear, roteiro envolvente, bem resolvido
e sedutor, com humor refinado e raro.
Mas, ao olharmos mais detalhadamente para esse
alegre gaucho, percebemos um sobrevivente de uma espécie em extinção. A figura
do Peão de Estância, aquele trabalhador que conhece as lidas campeiras como
ninguém; e hoje, já não tão indispensável; quando as Fazendas aos poucos se
transformam ao implantar novas tecnologias. E homens como Lauterio, estão cada
vez mais ausentes, para se transformarem em lendas.
Esse Xirú, do qual falamos, tem o perfil
psicológico perfeitamente identificado, - e quem já se aventurou no interior de
nosso Pampa, e/ou região missioneira, “pago” do Lauterio, reconhece seu tipo
alegre, - dono de linguagem própria ao falar com as imagens do lugar onde vive
e trabalha. Faz parte da paisagem. O homem e seu cavalo. Por tradição é um
valente, por temperamento, um alegre.
Byrata
apresenta, corajosamente, nessa ultima publicação, “Xirú Lautério e os
Dinossauros”, o herói acompanhado de um grupo de amigos, que alem de outras
lidas campeiras, “carneiam gado à noite” e andam em voltas com dinheiro
falsificado. Essas más companhias, e esse desempenho as avessas dos heróis
gaúchos chegam mais próximo à realidade contemporânea, obrigando aos
trabalhadores do campo a romper um estilo de vida e migrarem para periferia das
cidades, caindo obrigatoriamente na realidade do submundo urbano.
A “luta”
conta a morte, recorrente ao personagem, sugere a metáfora sobre o
desaparecimento desse guerreiro dos campos, que em outros tempos, emprestou sua
valentia as oligarquias da época e na atualidade brigam ferozmente, sem mesmo
saber por que, - como em outros tempos -, contra tigres, Demo, e monstros
pré-históricos, que subliminarmente se esconde a primeira analise.
Junto a tudo isso, - como se não bastasse -
Byrata nos traz em detalhes, no traço e falas dos personagens, planos bem
elaborados, e as riquezas do cotidiano campeiro; quando Lautério prepara o fumo
crioulo para o “palheiro”, ou o cuidadoso arranjo do chimarrão.
Xirú fala com seu cavalo, e qual gaúcho que não
faz isso? Mas nenhum tem um cavalo que pensa e reclama da lida do campo. Para
completar, vem em ultima analise a presença do conflito: um patrão fora da lei,
um cientista alemão possuidor de certa ética, tempero mais que perfeito para o
sabor da trama final.
fac-símile da página 4 do Jornal de Artes |
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