Viajei em companhia do colega cartunista,
Santiago e sua esposa Olga Pacheco. Partimos do Aeroporto Salgado Filho no dia
19 de setembro, num voo direto a Lisboa, pela Tap Portugal. Após, quase 11
horas de viagem pousamos na linda capital da pátria mãe dos brasileiros, onde
fizemos conexão para um novo voo rumo à França.
Desembarcamos no aeroporto de
Orly, justamente em 20 de setembro, o dia do gaúcho, para participar do 4º
festival do Rio Grande do Sul de Paris, a convite da Association Sol do Sul,
entidade criada e administrada por gaúchos que residem na “Cidade luz”.
Fomos recepcionados no aeroporto
e conduzidos ao Centre International de Séjour Kellermann, onde estivemos hospedados
até o dia 30 de setembro. Lá encontramos com outros participantes convidados
para o festival, dentre eles, um animado grupo de danças tradicionalistas
gaúchas (Cia de Arte: Universo em Dança) da cidade de Butiá, também conhecemos o
simpático casal Carine Glienke e Marcos Froner Ferreira, dançarinos da cidade
de Curitibanos – SC e os músicos Adriana de Los Santos, excepcional gaiteira
gaúcha e o violonista Lívio Macedo, paranaense radicado em São Paulo. Rapidamente
nos integramos e passamos a conviver como se estivéssemos em nossos pagos queridos.
A Associação Sol do Sul e o Festival do Rio Grande do Sul de Paris
A Association Sol do Sul é uma
entidade sem fins lucrativos estabelecida na cidade de Paris desde 2003 e tem
como objetivo promover e divulgar a cultura e o turismo e oportunizar novas
aberturas comerciais do Sul do Brasil, especialmente o estado do Rio Grande do
Sul, na França e na Europa.
Em sua quarta edição, pelo que
observei, o festival tem cumprido com seus objetivos de divulgação e promoção
da cultura do sul do Brasil na França, oportunizando aos convidados mostrar seu
trabalho e divulgar os potenciais de seus lugares de origem, é claro que tudo é
feito com bastante dificuldade, pois lá é um mundão enorme onde circula gente de
todo o planeta, das mais diversas culturas e nacionalidades, é algo
inimaginável pra um viajante de primeira jornada. O pessoal da Association Sol
do Sul, capitaneados pela sua competente Presidente Jaqueline Dreyer, faz o que
pode para realizar esse evento que nasceu de um sonho, de um ideal e que vem se
fortalecendo a cada ano que passa, conquistando novos parceiros e apoios
fundamentais. Convivendo com eles, me identifiquei muito com sua luta e busca
de realizações, comparei com a minha própria, onde busco realizar minha obra,
mesmo com as dificuldades para sua propagação, mas graças ao apoio e
sensibilidade dos amigos, familiares, entidades, empresas e apreciadores, tenho
conseguido realizar meu trabalho até aqui e atrair a atenção e o interesse até de
centros tão distantes onde existem pessoas que valorizam o esforço e a produção
artística que representa a cultura de um lugar.
Durante o Festival, fomos
recepcionados com “pompa e circunstância” na Embaixada Brasileira, recebidos
honrosamente pelo Embaixador do Brasil na França, o Sr. Paulo C. de Oliveira
Campos, onde tivemos oportunidade de falar um pouco sobre nosso trabalho e
nossa região de origem. Foi um encontro em que nós como artistas nos sentimos
valorizados pelo que fazemos e pela condição de representantes culturais de
nosso país. Naquele momento, mais uma vez senti orgulho de ser gaúcho e estar
integrado a uma iniciativa de valorização coletiva.
A programação do festival foi bem
variada, houve palestras sobre culinária gaúcha e também sobre o pinhão, essa semente
maravilhosa produzida pela araucária, ou pinheiro brasileiro, que além de
disseminar a espécie pelo solo brasileiro, ainda enriquece nossa culinária
através de pratos saborosos e de alto teor nutritivo, consumidos principalmente
durante o inverno, nas regiões do sul do país.
No sábado dia 24 de setembro foi
o auge da programação do festival, com a realização às 13 horas da 3ª Marcha
Farroupilha e depois, na Sala de festas da Prefeitura do 14º distrito (Salle des Fêtes de la
Mairie du 14e) houveram várias apresentações artísticas num palco
integrado a um grande espaço ocupado por vários stands com venda de produtos
gaúchos, mostra de gastronomia e divulgação turística e cultural de diversas
regiões do sul do Brasil.
No hall de acesso ao salão foi
montada a exposição “Gauchos sur La Rive Gauche” com cartuns do Elias
(cartunista do jornal Diário de Santa Maria), do Santiago e meus. Em frente á
exposição, recebemos o público que veio prestigiar nosso trabalho e adquirir
nossas obras. Nesse dia realizei o lançamento internacional do Xiru Lautério e
Os Dinossauros – Parte 1, traduzida para os idiomas Francês, Italiano e
espanhol, além da versão em português, naturalmente. Levei uma mala de Xirus e
deixei todos por lá, vendidos em Euros, uma moeda forte, barbaridade.
No domingo, dia 25, encerrou-se a
programação do 4º Festival do Rio Grande do Sul de Paris, com um baita
churrasco assado por três gaúchos da comitiva de visitantes, dois do grupo de
danças de Butiá e mais o Marcos Froner Ferreira, gaúcho catarinense louco de
bueno, que provou mais uma vez a todos nós que ser gaúcho é um estado de
espírito que vai além da geografia.
A carne, selecionada pelos
gaúchos foi muito apreciada, embora o gosto dos parisienses seja um tanto
diferente, eles apreciam o assado mal passado, quase cru, esse é um consenso.
Entrevista na Rádio França Internacional e encontro com o cartunista
Plantu
Após as atividades do Festival do
Rio Grande do Sul de Paris, cumprimos ainda com mais alguns compromissos que
haviam sido agendados por Jaqueline Dreyer, especialmente para mim e o
Santiago, primeiro fomos a uma entrevista na RFI – Rádio França Internacional,
onde conversamos com a jornalista Patricia Moribe, brasileira, radicada em
Paris, e falamos um pouco sobre nosso trabalho e a situação do cartum e das
histórias em quadrinhos no Brasil.
Depois nos encontramos com o
cartunista Plantu, do Jornal Le Monde e fundador da organização Cartooning for
Peace, “Cartunistas pela paz” cujo objetivo principal é promover as liberdades
fundamentais e a democracia. A associação dá especial atenção ao exercício da
liberdade de expressão, tal como definido no artigo 19º da Declaração Universal
dos Direitos Humanos: “Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de
expressão, este direito implica a liberdade de manter as suas próprias opiniões
sem interferência e de procurar, receber e difundir informações e ideias por
qualquer meio de expressão independentemente das fronteiras”. O encontro foi
muito produtivo e me permitiu compreender ainda melhor o papel que temos como
cartunistas, nesta vida moderna, em que vivemos tão intensamente o choque entre
as diversas culturas de nosso planeta.
Depois dessa intensa atividade,
em que dividimos nosso tempo entre andar pela cidade, na maioria das vezes de
metrô, esse impressionante meio de transporte que nos leva de um ponto a outro
da cidade rapidamente, permitindo-nos conhecer muitos lugares famosos e
belíssimos, encerramos nossa participação na cidade de Paris e no dia 30 de
setembro, tomamos um trem para a cidade de Limoges e depois um ônibus rumo a
Saint-Just-Le-Martel, no interior da França para participar do 35º Festival
Internacional de La Caricature et Du Dessin de Presse & D’Humour, onde
fomos os representantes do Brasil nesse festival que reuniu cartunista do mundo
inteiro, mas o relato sobre essa participação ficará para outra oportunidade.
Xiru Lautério, um personagem tupanciretanense arrastando as esporas no
Champs-Élysées
Além da maravilhosa oportunidade
de conhecer Paris, numa experiência inesquecível, em que pude conviver com
tanta gente diferente e apreciar a um monumental conjunto arquitetônico, de uma
beleza de encher os olhos e a imaginação, passeando diante de uma história
milenar, viva e vibrante, compreendi que esse foi o bônus especial que recebi
nessa viagem, mas o que procurei estabelecer como meta principal foi a busca de
oportunidades para divulgação de meu trabalho, na esperança de atrair o
interesse de possíveis editores para o personagem Xiru Lautério na França e na
Europa.
Esse objetivo foi alcançado em
parte, fiz novos amigos na França e consegui apresentar o Xiru para muitas
pessoas e acredito que o primeiro passo foi dado, uma nova perspectiva se abre
para a apresentação de nossa cultura e nossos costumes, divulgados através da
linguagem universal dos quadrinhos, devidamente traduzidos para os idiomas latinos,
criando oportunidade de abrir caminhos para o Xiru Lautério, personagem nascido
e criado em Tupanciretã, “cria” mais precisamente ali da Lagoa Vermelha e de
São Bernardo, e que agora atravessou o oceano Atlântico e andou pelas terras da
Velha Europa, inicialmente na França e quem sabe mais adiante por outras
paragens do Velho Continente, onde as histórias em quadrinhos são muito
apreciadas.
Um grande abraço a todos!
Byrata, 12/10/2016
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