Xiru Lautério "O PERSONAGEM MAIS BAGUAL DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS BRASILEIRAS"

1 de fev. de 2010

30 de janeiro: Dia da HQ no Brasil
















por Ricardo Quintana

Dia Nacional do Quadrinho
e um século sem o pioneiro das HQs no Brasil


Exposição na Pandora em Campinas, homenageia Angelo Agostini e o Dia da HQ Nacional



30 de janeiro é um dia especial para a arte brasileira, afinal é nesta data que se comemora o Dia Nacional dos Quadrinhos. Neste ano de 2010, porém, a homenagem é dupla: afinal, em 28 de janeiro de 1910, portanto há um século, morria Angelo Agostini, precursor do quadrinho nacional e razão do dia 30 ter sido estabelecido como Dia Nacional dos Quadrinhos: foi em 30 de janeiro de 1869 que o autor publicou a primeira história em Quadrinhos no Brasil (Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à Corte). Para lembrar a ocasião em dose dupla, a Pandora Escola de Arte promove, de 29 de janeiro a 13 de fevereiro, uma exposição tendo Agostini como tema.

“Agostini foi um artista gráfico genial e, além de ter criado a primeira HQ, fundou os mais importantes jornais do Brasil na época - (Diabo Coxo, O Cabrião, Revista Illustrada) - e colaborou com inúmeros outros (O Mosquito, Vida Fluminense, Tico-tico). Suas charges refletiam a situação política e cultural com humor acurado e eram lidas e discutidas por todos”, pontua o cartunista Bira Dantas, professor da Pandora e estudioso da vida de Agostini.

Bira ressalta que, apesar de ser realmente popular na época, Agostini morreu sem grandes reconhecimentos. “Só posteriormente é que veio o Dia do Quadrinho Nacional, a divulgação de que ele já fazia histórias antes de Richard Outcalt (tido por muitos como “o criador” das histórias em quadrinhos). Esta exposição que faremis também é uma forma de reforçar esse reconhecimento”, diz.

Ao todo, serão mais de duas dezenas trabalhos (ilustrações, charges, caricaturas, cartuns e desenhos diversos) que poderão ser conferidos gratuitamente pelo público, de segunda a sábado. Além da arte de professores e alunos da Pandora, serão expostos desenhos e ilustrações feitas especialmente para a exposição por quadrinistas de renome, como Marcio Baraldi (Roco Loko), Franco de Rosa, Kipper, Morettini, Ruy Jobim, Shimamoto, Spacca, Edgar Franco, Mastrotti, Matheus Moura, Stocker, Amorim, Will e Gualberto .

Agostini foi o primeiro?

Muito se debate sobre quem foi o primeiro autor de histórias em quadrinhos no mundo. A versão mais divulgada é de que a primeira HQ seria Yellou Kid, personagem de Richard Outcalt lançado em 1895 por Richard Outcalt, 26 anos, portanto, depois de Angelo Agostini.

“Na verdade, Outcalt ganhou fama porque foi o primeiro a publicar seu trabalho em um jornal de grande circulação, o New York World, e de maneira mais sistemática. Além disso, apesar do personagem principal ter seus textos escritos na própria camisa, ele usava balões para os demais participantes da história, enquanto Agostini colocava os textos abaixo dos desenhos”, pontua o jornalista e cartunista DJota Carvalho, mestre em educação pela Unicamp e autor do livro A educação está no gibi (Papirus Editora).

Carvalho ressalta, porém, que outros usaram balões antes de Outcalt, assim como havia formas de narração precursoras dos quadrinhos também antes de Agostini. “Em 1827 o suíço Rudolph Topffer já publicava histórias ilustradas divididas em quadrinhos, com personagem fixo e separação de texto e imagem. Em 1702 já havia o mangá (quadrinho japonês) Tobae Sankokushi e há quem considere histórias ilustradas chinesas que datam de Antes de Cristo como precursoras das HQs. Se pensarmos bem, as pinturas rupestres também são espécies de HQ, já que usam desenhos em sequência para narrar histórias”, diz.

Para Carvalho, o fundamental é que Agostini é sem dúvida o pioneiro dos quadrinhos do Brasil e, com certeza, um dos primeiros mestres da nona arte no mundo. “A discussão de quem fez primeiro, em minha opinião, tem menos relevância do que a contribuição inquestionável de Agostini ao mundo das artes gráficas. Ele tem que ser reverenciado e lembrado sempre, pois faz parte da história do Brasil de maneira inequívoca e a qualidade de seus trabalhos é fabulosa.”


Exposição Dia do Quadrinho nacional: Um Século sem Angelo Agostini
Data: de 29/01 à 13/02.
Das 9 às 19 horas (de segunda à sexta) e das 9 às 13 horas (sábado)
Local: Pandora Escola de Arte - Rua Joaquim Novais, 146 - Fone (19) 3305.4731
Cambuí - Campinas (SP)


Quem foi Angelo Agostini

O ítalo-brasileiro Angelo Agostini nasceu em Piemonte, no ano de 1943 e passou a infância em paris, acompanhando a mãe, a cantora lírica Raquel Agostini. Aos 16 anos (em 1859), mudou-se para São Paulo e, cinco anos depois, iniciou a carreira como cartunista e publisher ao fundar o jornal Diabo Coxo – primeiro jornal ilustrado da capital paulista.

Em 1865 o Diabo foi fechado e, em 1866, Agostini voltou a carga lançando a revista O Cabrião. Crítica e polêmica, a publicação foi a falência um ano depois, após ter tido inclusive sua sede depredada por populares em virtude das constantes críticas do cartunista ao clero e aos escravagistas paulistanos. Foi nas páginas de O Cabrião, porém, que Agostini lançou sua primeira história ilustrada, As Cobranças.
Cansado da perseguição em São Paulo, Agostini mudou-se ainda em 1867 para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu desenvolvendo intensa atividade em favor da abolição da escravatura – com direito a inúmeras charges ironizando o governo de Pedro II e importantes figuras da sociedade carioca. No Rio colaborou com, entre outras, as revistas O Mosquito e Vida Fluminense. Nas páginas desta última publicou, em 30 de janeiro de 1969, Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte – primeira HQ brasileira e sem dúvida uma das primeiras do mundo, anterior inclusive a The Yellow Kid, que por convenção estabelecida pelos Estados Unidos muitas vezes é apontada como “a primeira HQ”.

Em 1º de janeiro de 1876, Agostini fundou a Revista Illustrada na qual criou uma nova HQ em 1883, com o personagem Zé Caipora, que dava título à história. Caipora sria publicado também nas revistas O Malho e Don Quixote.
Em 1884, uma aluna de Agostini, Abigail de Andrade, chamou a atenção do mestre, que era casado, mas começou a se envolver romanticamente com a pupila. Abigail foi a única mulher a receber uma medalha de ouro por trabalhos expostos no Salão Imperial naquele ano e recebia grandes elogios da crítica.

Agostini conseguiu manter o romance escondido, a princípio, e em 1886 voltava a chamar atenção com seu trabalho: publicou todas as aventuras de Zé Caipora em fascículos – para muitos, a coletânea é considerada como a primeira revista de quadrinhos com um personagem fixo a ser lançada no Brasil.

Em 1888, porém, o relacionamento com Abigail se tornaria um escândalo de grandes proporções na sociedade carioca com o nascimento da filha do casal, Angelina. Agostini, então, foi obrigado a se mudar com a moça e o bebê para Paris. Em 1890, o casal teve um novo bebê, desta vez um menino, Angelo. Mas o garoto faleceu ainda pequeno e, logo depois dele, Abigail também morreu.

Agostini voltou então ao Brasil com a filha – Angelina, que faleceu em 1973, viria a se tornar uma pintora reconhecida no Rio de Janeiro – e fundou a revista Don Quixote (1895-1906), além de colaborar com a famosa revista de quadrinhos Tico-Tico. O autor publicou Zé Caipora até 1906 e, quatro anos depois, em 28 de janeiro de 1910, faleceu na capital carioca.

Publicado em: http://blog.pandora.art.br/

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